Que pais é esse - Capital Inicial (Cover)
Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Logo na primeira estrofe, temos uma afirmação problemática: “ninguém respeita a Constituição”, desde o mais pobre (nas favelas), até queles que deveriam dar o exemplo (no Senado), não há quem respeite, e onde não há respeito não há ordem, há bagunça, sujeira (Sujeira pra todo lado). Todos acreditam que o país pode melhorar, mas ninguém que fazer sua parte, é um esperando pelo outro e todos de braços cruzados. Na época em que a canção foi composta (1978) e também quando o disco foi lançado (1987), a constituição em vigor era a de 1967, aprovada durante o regime militar. Temos aqui uma colocação supostamente contraditória: a constituição, mesmo de natureza autoritária, é evocada como um documento a ser respeitado, mas que não se respeita. Nesse caso, constituição pode ter sentidos diversos, talvez, no caso da letra, se reduza aos aspectos positivos de um conjunto imaginário de direitos e deveres de todos que vivem em sociedade.
Que país é esse (3x)
No Amazonas, no Araguaia, na Baixada Fluminense
Mato Grosso, nas Geraes e no Nordeste tudo em paz
Neste trecho, temos a referência não apenas a diversas regiões violentas do Brasil, mas, sobretudo, a fatos históricos envolvendo repressão. Como exemplo, temos a referência à guerrilha do Araguaia, onde o regime militar, matou e deixou desaparecidas várias pessoas que protestavam contra o governo, e a Baixada Fluminense que até os dias de hoje apresenta elevados índices de violência, sobretudo em relação ao tráfico de drogas, que também está relacionado com a região do Amazonas. Esta última porém, é melhor trabalhada na canção “Conexão amazônica”, do mesmo disco. A ênfase vocal de Renato Russo no trecho “tudo em paz” constitui um deboche, que é ao mesmo tempo ironia e sarcasmo, pois nesse cenário de violência apresentado, como tudo poderia estar em paz?
Na morte eu descanso mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Já a qui, o autor parece acreditar num possível descanso só após a morte, mas também, deixa claro que a mesma tem sido mecanismo dos poderosos para calar a muitos (sangue anda solto ), usando suas posições e influencias, alteram documentações, somem com provas e qualquer indicio que possam ligá-los ao sumiço de seus desafetos (Manchando os papéis, documentos fiéis ), é a tal queima de arquivo, que ainda nos dias de hoje ouvimos falar. E ainda nesse trecho ele nos deixa a ideia de que, aqueles que poderiam fazer alguma coisa, simplesmente ignoram, fazem vista grossa ( Ao descanso do patrão).
Que país é esse (4x)
Terceiro mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios em um leilão
Nesta terceira e última estrofe, encontramos uma visão sarcástica do presente e do futuro logo nos três primeiros versos, o autor quer deixar claro o quão longe o país estava de se tornar uma grande nação e nos outros três que seguem o autor faz uma referência metafórica ao nosso passado histórico (“quando vendermos todas as almas/ dos nossos índios num leilão”). Nesse jogo de palavras, temos a afirmação debochada e sarcástica de que o Brasil conseguirá enriquecer e chegar ao nível dos países do primeiro mundo quando comercializar o seu último (e ao mesmo tempo, primeiro) elemento puro da terra: os índios. Nesses versos, temos a idealização do elemento indígena, como símbolo da nossa cultura, crença (de uma certa forma, no verso "Mas o Brasil vai ficar rico " e nos outros que seguem, o deboche virou profecia, e nos dias atuais a profecia esta se cumprindo. O Brasil esta enriquecendo, mas a troco da falência cultural e social do nosso país, pois estamos emburrecendo e agregando a cultura gringa a nossa em troca de favores e de um nome bem visto la fora, nunca estivemos tão americanizados como nos dias atuais).
Que país é esse (4x)
Líder do grupo: Loianne Amaral
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